sexta-feira, junho 24, 2005

Tentativas para um Regresso à Terra

O sol ensina o único caminho
a voz da memória irrompe lodosa
ainda não partimos e já tudo esquecemos
caminhamos envoltos num alvéolo de ouro
fosforescente
os corpos diluem-se na delicada pele das pedras

falamos rios deste regresso e pelas margens ressoam
passos
os poços onde nos debruçamos aproximam-se
perigosamente
da ausência e da sede procuramos os rostos na água
conseguimos não esquecer a fome que nos isolou
de oásis em oásis

hoje
é o sangue branco das cobras que perpetua o lugar
o peso de súbitas cassiopeias nos olhos
quando o veludo da noite vem roer a pouco e pouco
a planície

caminhamos ainda
sabemos que deixou de haver tempo para nos olharmos
a fuga só é possível dentro dos fragmentados corpos
e um dia......quem sabe?
chegaremos

Al Berto
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domingo, junho 19, 2005

Fragil

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sexta-feira, junho 17, 2005

Um poema sobre nada

Às vezes a imaginação caminha na neblina
Descalça, tacteia o chão
Tropeça nos degraus do esquecimento
Cautelosamente aprecia o anonimato
Divorcia-se de todas as referências
Aspira a uma sublimação minimalista
Perde-se na vastidão do silêncio
Apenas encontra cinzenta abstracção
Excita-se na presença da monotonia
Grita por um tédio mundano
Os olhos bebem a escuridão
Testemunha a nudez das palavras
Sorri para folhas em branco
Festeja o vazio das pampas
Dança na invisível turbulência do ar
Anseia pelo vácuo sideral
Desfruta do supremo prazer do nada

M.Daedalus
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quinta-feira, junho 09, 2005

Amor incondicional

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Bom dia!

quinta-feira, junho 02, 2005

Olhava agora a dançarina
que ocupava todo o espaço numa dança sem braços.
Dançava como se não pudesse seguir o ritmo da música.
Dançava como se não ouvisse o som.
Dança isolada e separada da música,
de mim,da vida.
Ela dançava,
rindo e suspirando e respirando tudo a seu favor.
Dançava os seus medos,
dançava para atender a críticas que não podia ouvir
ou para se entregar ao aplauso que não existia.
Escutava músicas que eu não podia ouvir
movida por alucinações que não tinha.
Ela dançava numa música com o ritmo dos ciclos da Terra,
voltava-se ao voltar-se a Terra,
virando todas as faces,
ora para o escuro,
ora dançando em direcção à luz.
A tremer agitada
ficou a olhar para os braços agora estendidos diante dela.
Eu não soube suportar a passagem das coisas.
Tudo o que flui,tudo o que passa,
tudo o que mexe e sufoca.

Anais Nin

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